Arrastado pelo Peneirão

Um olindense distraído caminhava tranquilamente pela cidade, sem imaginar o que estava por vir.
A manhã era quente, o sol brilhava forte, e ele apenas queria comprar algumas coisas no mercado.
Com a sacola na mão, seguia despreocupado, alheio ao burburinho que começava a crescer.

O som dos tambores ecoava à distância, mas ele não deu muita importância.
Talvez fosse apenas mais um ensaio de carnaval, algo tão comum por ali.
Mas os passos acelerados e os gritos animados já indicavam algo maior.

De repente, a esquina se encheu de cor, brilho e energia contagiante.
Era o Bloco O Peneirão, avançando com tudo, trazendo uma multidão sedenta de folia.
Os passistas se moviam freneticamente, levantando poeira na avenida.

Nosso amigo olindense percebeu tarde demais que estava bem no meio do trajeto.
Tentou recuar, mas o mar de gente o envolveu sem dar chance de fuga.
Entre um empurrão e outro, viu-se tomado pelo ritmo da festa inesperada.

As pernas já não obedeciam ao cérebro, que ainda tentava raciocinar.
O corpo, no entanto, já se rendia à vibração da percussão inebriante.
Foi quando ele percebeu: estava, de fato, arrastado pelo Peneirão.

Riu de si mesmo, imaginando a cena vista de fora.
Ali estava ele, um simples comprador de mercado, transformado em folião.
A sacola balançava no ar, enquanto a alegria do carnaval o levava.

Lembrou-se, então, da esposa e das filhas, que não acreditariam em sua história.
Sacou o celular com destreza, tentando registrar aquele momento inusitado.
O suor escorria, o coração pulsava forte, mas ele não podia perder a chance.

O vídeo capturava o turbilhão de cores e sorrisos ao seu redor.
Os foliões o abraçavam como um dos seus, empurrando-o para o centro da festa.
Ele tentava falar, mas a voz se perdia no coro ensurdecedor da multidão.

Sem saída, aceitou seu destino e se entregou à dança espontânea.

Naquela manhã comum, um mercado virou pretexto para um mergulho na folia.

Quando finalmente conseguiu sair da multidão, ajeitou os cabelos e respirou fundo.
A sacola ainda estava intacta, como um troféu daquela aventura inesperada.
Sorriu ao ver a gravação no celular, já imaginando as risadas em casa.

Caminhou de volta, ainda ouvindo ao longe o batuque do Peneirão.
A cidade pulsava em festa, e ele, sem querer, havia feito parte dela.
Olinda era assim: sempre pronta para surpreender seus filhos mais distraídos.

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