Abelardo da Hora, um Gigante da Arte Pernambucana

Abelardo Germano da Hora nasceu em 31 de julho de 1924, no município de São Lourenço da Mata, Pernambuco. Cresceu em meio às dificuldades sociais e econômicas do estado, o que marcou profundamente sua trajetória artística. Desde cedo, demonstrou interesse pelo desenho e pela escultura, inspirando-se nas cenas cotidianas da vida nordestina.

Seu talento foi descoberto ainda jovem, levando-o a ingressar na Escola de Belas Artes do Recife. Lá, aprimorou sua técnica e aprofundou sua visão crítica sobre a realidade social. Suas obras passaram a expressar uma forte sensibilidade humanista, denunciando as desigualdades e exortando a resistência popular.

abelardo da hora em seu atelier no Engenho Sao Joao da Varzea Recife em 1944

Nos anos 1940, Abelardo da Hora participou da criação do Atelier Coletivo do Recife, um espaço fundamental para a arte pernambucana. Esse atelier surgiu como uma alternativa à rigidez acadêmica, incentivando a experimentação e a liberdade de criação entre os artistas locais. Foi um marco na renovação das artes plásticas no Nordeste.

O Atelier Coletivo do Recife localizava-se na Rua do Lima, no bairro de Santo Amaro, no centro da cidade. O local era modesto e carecia de estrutura adequada, mas sua importância era inegável. Ali, diversos artistas se reuniam para produzir e debater arte, contribuindo para a formação de uma identidade estética regional.

O ambiente do atelier refletia a efervescência cultural da época, sendo um ponto de encontro para nomes que se tornariam referências na arte brasileira. Além de esculturas e pinturas, os artistas do coletivo também exploravam gravuras e cerâmicas, sempre em busca de uma linguagem visual própria e acessível ao povo.

menino de mocambo

Abelardo da Hora destacou-se pela criação de obras de grande impacto social e político. Suas esculturas retratavam, com realismo e expressividade, a luta dos trabalhadores, a miséria e a força do povo nordestino. Seus traços fortes e suas figuras imponentes se tornaram características marcantes de seu trabalho.

O artista também teve um papel importante na democratização da arte em Pernambuco. Além de produzir peças monumentais para espaços públicos, dedicou-se ao ensino e à formação de novos talentos. Seu compromisso com a cultura popular fez com que suas obras fossem admiradas e respeitadas em todo o Brasil.

Com uma carreira prolífica, Abelardo da Hora transitou entre diferentes materiais e suportes, sempre mantendo sua essência combativa. Produziu desde pequenos bustos até esculturas em larga escala, muitas das quais estão espalhadas por Recife e outras cidades nordestinas. Seu legado permanece vivo no cenário artístico nacional.

Além da escultura, dedicou-se à gravura e ao desenho, sempre mantendo um olhar atento às questões sociais. Criou séries de xilogravuras e ilustrações que denunciavam a exploração dos trabalhadores e as injustiças sociais. Seu traço vigoroso e sua temática popular aproximaram sua arte do povo.

A influência de Abelardo da Hora também se estendeu à política. Atuou como militante cultural, engajando-se em movimentos artísticos e sociais. Seu trabalho esteve frequentemente associado a lutas por direitos humanos, tornando-se símbolo de resistência contra a opressão.

A Cópula, obra de 1949 em bronze

Suas obras, muitas vezes, foram censuradas por regimes autoritários devido à forte carga de denúncia e protesto. No entanto, ele nunca se intimidou, continuando a produzir e a expor suas ideias por meio da arte. Seu espírito combativo e sua crença na transformação social através da cultura permaneceram inabaláveis.

Entre suas obras mais conhecidas, destaca-se a escultura “Monumento ao Trabalhador”, instalada no Recife. Essa peça representa a força da classe operária e simboliza a luta por melhores condições de vida. Outras criações suas podem ser vistas em praças e espaços públicos, eternizando sua visão artística e social.

Abelardo da Hora também fundou e dirigiu instituições culturais voltadas para a valorização da arte pernambucana. Seu empenho na formação de novos artistas garantiu a continuidade de sua visão e de sua escola estética, inspirando gerações posteriores.

Ao longo de sua trajetória, recebeu diversas homenagens e prêmios, sendo reconhecido nacional e internacionalmente. Sua obra integra acervos de museus e coleções particulares, reafirmando sua importância na história da arte brasileira.

Mesmo com o passar dos anos, sua produção manteve-se intensa. Continuou a esculpir e a desenhar até seus últimos dias, sempre fiel ao seu compromisso com a arte e a sociedade. Seu trabalho seguiu como um testemunho da força e da resistência do povo nordestino.

Aurora, obra situada em frente à prefeitura de João Pessoa

A morte de Abelardo da Hora ocorreu no dia 23 de setembro de 2014, deixando um vazio irreparável na arte brasileira. Sua partida foi sentida por artistas, intelectuais e admiradores que viam em sua obra um reflexo da identidade nordestina e da luta por justiça social.

Como forma de homenagem, diversas instituições culturais e educacionais passaram a exaltar sua obra e sua memória. Suas esculturas permanecem como símbolos de resistência, inspirando novas gerações de artistas e ativistas.

A história de Abelardo da Hora é a de um homem que transformou a dor e a luta de seu povo em arte. Sua obra transcende o tempo, mantendo viva a chama da indignação e da esperança por um mundo mais justo.

O Recife, Pernambuco e o Brasil guardam com orgulho seu legado. Abelardo da Hora não foi apenas um escultor talentoso, mas um verdadeiro cronista visual das mazelas e das grandezas do povo nordestino.

Que sua arte continue a emocionar e a inspirar aqueles que buscam na cultura um instrumento de transformação social. Seu nome permanece imortalizado na história da arte brasileira.

 

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