Cícero Dias é um dos grandes nomes da arte brasileira e um dos principais expoentes do modernismo no país. Nascido em 5 de março de 1907, na cidade de Escada, em Pernambuco, ele cresceu cercado pela cultura nordestina e pelas paisagens vibrantes que marcariam profundamente sua obra. Desde cedo, demonstrou interesse pelo desenho e pela pintura, habilidades que o levariam a se tornar um artista de reconhecimento internacional.
Aos 14 anos, Cícero Dias mudou-se para o Recife, onde estudou no Ginásio Pernambucano. Posteriormente, foi para o Rio de Janeiro, onde se aproximou do círculo modernista, frequentando artistas e intelectuais como Di Cavalcanti e Mário de Andrade. Sua arte passou a se destacar por um uso expressivo das cores, formas abstratas e temáticas que remetiam ao Nordeste, mesclando elementos figurativos e oníricos.
Em 1928, ele apresentou uma de suas obras mais emblemáticas, o imenso painel “Eu vi o mundo… Ele começava no Recife”, uma composição inovadora que misturava influências do cubismo, surrealismo e do imaginário nordestino. Essa obra tornou-se um marco do modernismo brasileiro, sendo considerada uma das mais ousadas criações artísticas do período.
A década de 1930 foi crucial para sua trajetória. Cícero Dias foi convidado a expor em Paris, onde teve contato com artistas de vanguarda como Pablo Picasso e Fernand Léger. Durante sua estadia na França, foi influenciado pelo surrealismo, incorporando novas técnicas e conceitos à sua arte. Esse período também marcou sua aproximação com o movimento abstracionista, que mais tarde seria um dos eixos centrais de sua produção.
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Cícero Dias precisou deixar Paris e se refugiou em Lisboa. No entanto, retornou à França pouco tempo depois, consolidando sua carreira no cenário artístico europeu. Trabalhou como ilustrador e manteve proximidade com figuras importantes da arte moderna, contribuindo para a disseminação da cultura brasileira no exterior.
Nas décadas seguintes, Cícero Dias aprofundou seu interesse pelo abstracionismo lírico, tornando-se uma referência no movimento. Suas obras passaram a ser marcadas por traços fluidos, composições dinâmicas e cores vibrantes, refletindo uma busca constante por inovação e liberdade estética. Ele participou de importantes exposições em museus renomados, como o Museu de Arte Moderna de Paris e a Bienal de Veneza.
Seu legado artístico não se limitou às galerias. Ao longo da vida, Cícero Dias também ilustrou livros e colaborou com escritores brasileiros e franceses, consolidando-se como um artista multifacetado. Suas contribuições para a arte modernista influenciaram diversas gerações de pintores e ajudaram a projetar a cultura nordestina em um contexto global.
Cícero Dias recebeu diversas homenagens e prêmios ao longo de sua carreira, sendo reconhecido como um dos maiores nomes da arte brasileira. Sua obra continua sendo estudada e admirada, servindo de inspiração para novos artistas que buscam explorar as possibilidades da arte moderna. Ele faleceu em 28 de janeiro de 2003, em Paris, deixando um vasto e valioso acervo artístico.
O pernambucano que “viu o mundo” e o pintou com cores, formas e poesia segue vivo através de sua obra. Cícero Dias não apenas ajudou a moldar a identidade do modernismo brasileiro, mas também levou a essência do Nordeste para além das fronteiras do país, provando que a arte é uma linguagem universal capaz de transcender o tempo e o espaço.