Na imunda e poluída lama do mangue, Recife, ergue-se a voz de um cientista
com a missão de enviar informações para o cosmos, com uma antena parabólica, que precisa da lama poluída do rio, com um método sofisticado e científico, transformando a lama em energia, para transmitir uma mensagem do groove para o mundo.
No ventre lodoso do mangue, onde Recife pulsa em marés de esquecimento, um cientista ergue sua antena ao infinito. A lama, densa e corrompida, não é obstáculo—é combustível. Em sua alquimia futurista, transforma resíduos em energia, decadência em impulso. E então, de um pântano esquecido, irrompe um feixe vibrante de ondas, carregando ao cosmos um ritmo que só quem tem groove compreende.
No contexto da Manguebeat, a palavra “groove” representa ritmo, fluidez e conexão com a essência da música. O termo vem do funk, soul e jazz, significando um balanço contagiante e uma batida envolvente.
Na estética manguebeat, o groove é a batida que mistura maracatu, rock, hip-hop, eletrônica e outras influências. É a pulsação da música que faz o corpo se mover, como o fluxo do rio, da lama, do mangue. Chico Science e a Nação Zumbi usavam o termo para expressar essa vibração única da fusão entre tradição e modernidade.
Em resumo, no manguebeat, groove é o som vivo, o balanço da periferia, a batida que ecoa resistência e cultura popular.
Vamos nos imaginar num universo paralelo, onde a comunidade trabalhou nessa ciberdelia e construiu essa antena, e que ela funcionou.
De repente, em ondas o ritmo mudou, moldando mentes com uma onda que nunca passou.
No coração do Manguebeat, o groove não é apenas um ritmo; é uma pulsação, uma energia vital que conecta o passado ao futuro, o urbano ao ancestral, a lama ao cosmos. Mais do que um conceito musical, groove é um estado de espírito, uma forma de estar no mundo, sentindo a batida fluída que atravessa o corpo e reverbera na alma.
O termo tem raízes no funk, no soul e no jazz, gêneros que moldaram a ideia de um balanço envolvente, algo que flui naturalmente e faz o corpo se mover quase sem perceber. No universo do manguebeat, no entanto, o groove ganha um significado mais profundo. Ele não é só swing; é identidade, pertencimento, resistência. É o maracatu que se mistura ao rock, o hip-hop que dialoga com os tambores do candomblé, a percussão afro-indígena se fundindo às distorções elétricas da guitarra.
Chico Science dizia que Recife era como um grande caranguejo no mangue—e o groove era o que fazia esse caranguejo se mover, dançar, resistir. O groove, para o manguebeat, é o ritmo orgânico da cidade, das vielas de Olinda, das ruas apertadas do Recife Antigo, das batidas improvisadas nas esquinas. É a tradução sonora da fusão cultural, da negritude, da periferia pulsante, a Cidade se reinventando em pleno caos urbano.
No fim, groove no manguebeat não é só música. É um código, um manifesto, um chamado para se conectar ao que é verdadeiro, ao que é sujo e belo ao mesmo tempo, ao que vibra na lama e se espalha pelo mundo como uma mensagem de ritmo, resistência e revolução.
Isso daria um conto incrível.
A Frequência do Mangue Cósmico
No coração pulsante do mangue, onde a lama era tanto berço quanto combustível, a comunidade se uniu num esforço sem precedentes. Cientistas, artistas, operários e visionários deram forma àquilo que antes era delírio: uma antena ciberdélica, um transmissor colossal, nascido da fusão entre tecnologia e biologia, pulsando com a energia extraída do próprio mangue poluído.
E então, um dia, ela funcionou.
No instante em que a primeira transmissão foi ao ar, ondas invisíveis cortaram a ionosfera e começaram a se espalhar. Mas algo inesperado aconteceu: em vez de se dissipar como qualquer outro sinal, a frequência se curvou, reverberando na ressonância do próprio planeta.
A Terra inteira sentiu.
A onda não apenas atravessava, ela moldava.
O stress evaporou. As rotinas impostas perderam o sentido. Não havia mais espaço para a exaustão mecânica do cotidiano. A engrenagem do mundo mudou. A frequência despertou algo primal, uma consciência coletiva que sempre esteve lá, mas abafada pelo barulho do sistema.
Agora, em vez de cada um lutar sozinho, os talentos se somavam. O padeiro se unia ao poeta, o engenheiro ao dançarino, o cientista ao músico. Pequenos grupos surgiam, não como corporações, mas como frentes de ação comunitária, onde cada um ofertava o que sabia fazer de melhor. Não havia ordens, nem comandos. Apenas fluxo.
O groove se tornou linguagem, economia, política. Era a nova lógica do mundo.
E assim, o caranguejo no mangue dançou.